O descontrole do aborto

O aborto no Brasil é uma prática mais comum do que se imagina. Esse foi o resultado encontrado na primeira Pesquisa Nacional sobre Aborto (PNA) publicada na “Revista Ciência & Saúde Coletiva” no fim do mês passado.
A partir dos questionários respondidos por cerca de 2 mil mulheres de 18 a 39 anos que vivem em centros urbanos se concluiu que aproximadamente uma em cada sete mulheres até 39 anos já fez aborto e que cerca de uma em cada cinco mulheres na faixa de 35 a 39 anos também já abortou pelo menos uma vez na vida.
Cerca de 60% das pesquisadas interromperam a gestação no ápice do período reprodutivo, entre 18 e 29 anos.
O objetivo do estudo foi quantificar o número de abortos no País, já que até então não existiam dados a respeito. “A pesquisa abriu o caminho.
Se tornou o ponto de partida para outros estudos serem desenvolvidos”, afirma Marcelo Medeiros, professor do departamento de Sociologia da Universidade de Brasília e um dos autores do trabalho.
Segundo a análise, o perfil da brasileira que aborta é composto principalmente por mulheres casadas, já com filhos e com baixa escolaridade. “A mulher que aborta pode ser sua vizinha, mãe, amiga ou irmã”, diz Medeiros.
A pesquisa divulgou ainda um dado preocupante: metade das mulheres que se submeteram a um aborto precisaram ser internadas em estado grave.
“A criminalização não detém a prática e faz com que a mulher se submeta a condições inseguras e clandestinas”, alerta o professor.
As consequências podem ser sérias e irreversíveis, e vão desde hemorragia e
esterilidade até a morte.
De acordo com o ministério da Saúde, o aborto é o quarto na lista das causas de mortalidade entre gestantes.
Para o pesquisador, se essas internações fossem tratadas como questão de saúde pública os índices poderiam ser minimizados.
“Seria necessário uma política nacional em três passos: espalhar contraceptivos; distribuir contraceptivos de emergência e pílulas do dia seguinte para as mulheres que necessitarem; e, em última instância, fazer o aborto em condições seguras e com supervisão médica”, propõe Medeiros.

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